Olá, boa noite. Conhecemos bem essa situação, pois somos pais de um menino, de 6 anos, que também é surdo severo bilateral.
Logo que a surdez foi diagnosticada, aos 3 anos, essa questão colocou-se-nos: qual seria o melhor local para ele ter a melhor educação possível? Como seria possível ele ter um ensino o mais próximo possível do regular, sem perder ano após ano, sem se atrasar, e ao mesmo tempo sem se sentir excluído, isolado, diferente dos outros? Acabámos por optar por uma escola para surdos -- no caso, o Instituto Jacob Rodrigues Pereira, em Lisboa. Porque aí, e ao contrário do pólo para o qual tínhamos sido encaminhados pelo hospital, ele teria uma educação que respeitava a sua condição de surdo: o ensino da língua gestual como língua mãe, o início de tudo, e a terapia da fala, que lhe permitiria ao mesmo tempo ir desenvolvendo a oralidade.
Três anos depois, só podemos dizer que estamos satisfeitos: ele expressa-se lindamente na língua gestual, no seu ambiente escolar, com os amigos e professores surdos, e evoluiu muito bem na oralidade, através da qual comunica connosco e com os restantes elementos da família. É perfeitamente bilingue, e isso permitiu-lhe entrar, este ano, para o 1.º ano do ensino básico, integrado, na mesma escola, numa turma de ouvintes, onde tem mais um colega surdo profundo implantado. Todo o ensino que teve, entretanto, deu-lhe capacidades para enfrentar da melhor forma este primeiro desafio: está completamente adaptado e a aprender ao mesmo nível dos colegas ouvintes.
O facto de estar integrado numa escola para surdos favorece-o neste contacto com os ouvintes, ajuda-o, ao contrário do que muita gente possa pensar. Desta forma, ele está a crescer normalmente, dentro do seu mundo, não se sente isolado, não é um caso único, ganhou ritmo para andar à mesma velocidade que os outros.
Embora haja pessoas que pensam que um surdo severo deve apenas estimular a oralidade, nós temos aqui um caso exemplar de que a língua gestual pode ajudar no desenvolvimento intelectual da criança e, por consequência, no desenvolvimento da oralidade. Não vale a pena disfarçar: se o nosso filho é surdo, devemos aceitar, assumir isso, e dar-lhe todas as armas para que ele possa ganhar o seu lugar na sociedade. Se o afastarmos do mundo que mais directamente lhe diz respeito, estamos a tirar-lhe trunfos.
Podemos dizer ao fim destes três anos que a lingua gestual não afastou o nosso filho da oralidade, antes pelo contrário, deu-lhe conceitos e entendimento do mundo mais cedo do que as palavras mal entendidas, ficamos espantados com a facilidade com que transita entre os dois mundos a que afinal pertence
Também nós procurámos estudos sobre o bilinguismo e suas implicações na oralidade mas encontrámos muito pouca coisa... falta quem se dedique a investigar e a dar respostas credíveis a esta questão tão sensível.
É importante não ficarmos apenas de um dos lados da barreira do oralismo ou do gestualismo e encontrarmos uma estrada onde possamos caminhar.